Publicação: As Melhores Histórias Brasileiras de Horror

Nesta coletânea, temos um apanhado em ordem cronológica da evolução do gênero de horror na literatura brasileira. A primeira coisa que chama a atenção no livro é a profundidade do trabalho de pesquisa empreendido pelos organizadores Marcello Simão Branco e Cesar Silva, que na introdução nos oferecem um belo tratado sobre a trajetória do gênero no Brasil, detalhando o panorama das publicações ao longo do tempo. Uma referência bem sólida para curiosos dispostos a se aprofundar em nomes menos conhecidos do gênero que desde sempre foi tão presente em nossa literatura.

Não é muito fácil apontar melhores em uma coletânea elaborada com tamanho cuidado, então apontarei aqui os contos que mais agradaram o meu gosto pessoal, apenas, começando pelo conto que abre o livro em grande estilo: A Vida Eterna, de Machado de Assis, uma história mórbida envolvendo um culto oculto e sua busca por fugir da morte a qualquer custo.

Outro destaque é a contribuição de Aluísio Azevedo, Demônios, que narra um lento ocaso da vida e da existência, criando uma ambientação em que qualquer semelhança com a esperança se dissolve passo a passo, uma narrativa que me lembrou um pouco O Último Homem, de Mary Shelley.

Com breve O Defunto, de Thomaz Lopes, visitamos o conhecido pavor e desespero de despertar sepultado vivo, seguindo para o também breve e autodescritivo A Peste, de João do Rio.

Destaco também a sequência de contos da década de 90, começada por Bença, Mãe, de Julio Emilio Braz (uma curiosamente surpreendente narrativa do ponto de vista de um protagonista fantasma que conquista nossa simpatia e compaixão pelo horror que é sua não-vida), prosseguindo com Solo Sagrado, de Carlos Orsi (com ares lovecraftianos e ao mesmo tempo um ataque a seitas religiosas manipuladoras como tantas que vemos hoje em dia e já em 1995 eram uma questão de preocupação para mentes realmente críticas) e Trem de Consequências, de Roberto de Sousa Causo (em que um personagem cansado por seus antecedentes militares, em estilo típico do autor, vive um relato tipicamente faustiano).

Depois dessa trinca, temos finalmente aquele que é o ponto alto da coletânea: O Fascínio, de Tabajara Ruas, um conto longo (uma novela? Noveleta? Nunca tenho muita certeza) em que vemos tropos típicos do horror gótico revisitados na ambientação do interior do Rio Grande do Sul de 1996. Está tudo lá. A moradia misteriosa, o passado assombrando o presente, os homens poderosos com poucos escrúpulos, tudo em uma narrativa com qualidade altamente cinematográfica.
Por fim, chegamos ao século XXI com Os Internos, de Gustavo Faraon e Bradador, de Braulio Tavares, que acabam ficando um pouco ofuscados, depois de Tabajara Ruas ter roubado a cena, mas nos apresentam visões capazes de trazer à tona nossos medos profundos mais uma vez.

As Melhores Histórias Brasileiras de Horror
Marcello Simão Branco & Cesar Silva (orgs.)
Devir, 2018

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