Mais ou menos a partir de 2015, começamos a ouvir falar bastante sobre Afrofuturismo. Para aqueles ainda não familiarizados com o termo, trata-se de um movimento artístico/cultural que abrange várias mídias, como a música, literatura, quadrinhos entre outros. Esse movimento busca construir uma visão de futuro partindo de estéticas, filosofias e tradições de origens africana. Ao fazer isso, ressalta-se o protagonismo dos afrodescendentes, combatendo os estereótipos que limitam nossa representação a histórias sobre pobreza, violência urbana e escravidão.
É importante ter em mente este resumo mínimo sobre as características do gênero antes de embarcar nesta leitura, pois nela essas características aparecem desenvolvidas em plena intensidade, em uma aventura que mescla vários tropos do cyberpunk (como a vida em megaplexos, as corporações dominadoras e a estratificação social bem demarcada) e os reinterpreta sob a ótica afrofuturista, apresentando, por exemplo, uma estratificação social ligada à conexão dos membros das respectivas classes com poderes paranormais, que aqui são associados aos ancestrais e ao culto dos orixás.
A espiritualidade, o papel dos orixás e sua relação com os humanos também são temas bastante trabalhados no romance, que acompanha a jornada de João Arolê, um caçador espiritual envolvido em uma trama de vingança e rebelião social. O protagonista é um personagem muito bem desenvolvido e multifacetado, com seus momentos de insegurança, medos, traumas do passado e um grande amor do presente, é realmente muito fácil se identificar com ele.
Outro aspecto que se destaca no livro é a capacidade do autor Fábio Kabral para descrições vívidas, coloridas e detalhadas de aspectos que constróem de forma sólida o ambiente de Ketu Três, o megaplexo onde a história se desenvolve, como um local multicultural (outra herança do cyberpunk), em que vemos diversas facetas do desenvolvimento de culturas de origem africana, algo muito semelhante ao que é mostrado na Wakanda do Pantera Negra, inclusive com referências sólidas a estilos musicais existentes e alguns que apenas estão esperando para existir.
Se você, como eu, é uma pessoa que cresceu curtindo ficção científica e sempre sentiu a falta de uma maior representação de protagonistas que parecessem com você, este livro é um belo de um oásis no deserto; se for um interessado por ficção científica, mas a questão da identificação não é algo que te interesse tanto, vale a pena ler um trabalho nacional que segue na vanguarda com um estilo renovado.
É importante ter em mente este resumo mínimo sobre as características do gênero antes de embarcar nesta leitura, pois nela essas características aparecem desenvolvidas em plena intensidade, em uma aventura que mescla vários tropos do cyberpunk (como a vida em megaplexos, as corporações dominadoras e a estratificação social bem demarcada) e os reinterpreta sob a ótica afrofuturista, apresentando, por exemplo, uma estratificação social ligada à conexão dos membros das respectivas classes com poderes paranormais, que aqui são associados aos ancestrais e ao culto dos orixás.
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O Caçador Cibernético da Rua 13
Autor: Fábio Kabral
Editora: Malê
Páginas: 208
Ano: 2017
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