Resenha de Show: Eclipse Doom Fest VI

Um festival de doom metal brasileiro. Durante vários anos, essa ideia foi uma utopia, porém, desde 2008, com muita força de vontade e trabalho duro dos envolvidos na cena que se interessam em vê-la crescer, isto tornou-se uma realidade, na forma do Eclipse Doom Fest, que busca reunir bandas nacionais de doom e dar o tempo necessário para que elas toquem um set decente, em vez de terem de espremer seu repertório em um tempo curto entre bandas de sonoridades mais aceleradas. Desde o ano passado, o festival passou a ser realizado na cidade de São Paulo, e a edição deste ano sem sombra de dúvidas já figura como o melhor evento em que compareci em 2013 e está pelo menos entre os cinco melhores de minha vida. O que fez do evento algo tão especial? Aquela sensação de união que eu não sentia em proporções tão grandes fazia muito tempo. Foi muito legal conhecer pessoalmente gente que eu só falava via internet, ou mesmo poder manter conversas mais prolongadas com gente que eu já conhecia mas apenas havia trocado algumas breves palavras em outras ocasiões. Some a isso o fato de ter um estande de venda de materiais de alta qualidade (embora a quantidade fosse infelizmente bem limitada), uma casa de show com atmosfera bem pitoresca (o Hole Club merece seu nome! Um espaço subterrâneo sem nenhuma interferência de iluminação externa) e bandas de altíssima qualidade, que já têm seus nomes marcados na história do estilo no país, e não há como não ficar maravilhado com a noite. Mas já estou sendo subjetivo. Vamos aos pontos objetivos do evento:
Soul's Silence (foto por Cielinszka)
A noite começou com os paulistas do Soul's Silence, que apresentaram um repertório mesclando sons de sua primeira demo e materiais inéditos. Interessante como ao vivo o som da banda apresenta de maneira bem clara um elemento de influência setentista, chegando mesmo a soar psicodélico em alguns momentos. Começaram já esquentando bem e servindo como prévia do nível de qualidade que veríamos a noite toda, sem decair em um momento sequer.
Bullet Course & Cielinszka (foto por Julie Sousa)
Após um intervalo para conferir o estande de materiais (e arranjar um CD do Amarna Sky, a ser resenhado em breve), sobe ao palco o Bullet Course, capitaneado pelo baixista/vocalista Daiton Arkn, (um dos responsáveis pela organização do evento, a propósito), que após uma intro com guitarras pesadas em contraponto ao cello executado por Cielinszka, colaboradora do Doom Metal BR e responsável pela Persephone Dark Clothes , nos deliciou com um death doom vigoroso e de sonoridade um tanto mais veloz que a média do estilo. Um som com muita qualidade e personalidade, de fato fica um pouco complicado traçar paralelos com outros nomes do estilo. Espero ouvir mais vezes esta banda, me agradou muito.
merchandise das bandas (e pegar um CD do
Lachrimatory (foto por Julie Sousa)
Mais uma pausa e mais tempo para jogar conversa fora com amigos que eram ao mesmo tempo velhos, e em breve estava no palco o Lachrimatory, a banda que fiquei mais de um mês ansioso por ver ao vivo. E eles não decepcionaram em nenhum instante. De fato, até agora estou impressionado com a sonoridade dos caras. Um doom completamente tétrico, com passagens transitando entre as influências dos grandes nomes dos anos 90 (especialmente My Dying Bride, inevitavelmente) e as formas mais sombrias possíveis do funeral doom. Junte a isso uma performance completamente dedicada do vocalista/tecladista Ávila Schultz (difícil ver um tecladista tão expressivo) e pronto, temos aqui (sem desmerecer qualquer das outras bandas) o ponto alto da noite.
HellLight (foto por Cielinszka)
Por fim, para fechar a noite, tivemos aquela que é sem dúvida a mais ativa banda de doom metal de São Paulo (não ouso dizer do Brasil, embora tenha certa suspeita a esse respeito), o HellLight, que se apresentou em plena forma, mostrando a diferença que faz tocar em uma casa cuja aparelhagem aguenta a intensidade de seu som. Eu não me lembro de ter ouvido com tanta clareza as linhas vocais limpas de Fábio em outras ocasiões. E para ajudar, eles chegaram com um repertório renovado, repleto de material de seu próximo álbum, No God Above, No Devil Below. Funeral doom da mais alta qualidade, com músicas longas e um equilíbrio entre vocais limpos (em alguns momentos dobrados entre Fábio e o tecladista Rafael) e guturais.
O saldo geral da noite foi extremamente positivo, além das minhas expectativas mais otimistas. O elemento de estrutura estava ótimo, as bandas também e o elemento humano idem. Não há nada mais o que adicionar que não soe redundante, apenas que espero ansiosamente pela edição do ano que vem e espero ver cada vez mais bandas de todo o Brasil mostrando a força do estilo por aqui, contra todas as expectativas.

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